Desaconselha-se a toma de ibuprofeno? Têm saído notícias dizendo que a COVID-19 pode agravar com a toma deste tipo de anti-inflamatório.
A carta recentemente publicada na revista “Lancet”, e que foi ontem (14 de março) divulgada por alguns órgãos de comunicação social, apresenta uma hipótese de natureza especulativa, baseada na descrição de algumas casuísticas, e é, até à data, a única que levanta a suspeita sobre o eventual papel desfavorável do ibuprofeno em doentes com patologias cardíacas ou diabetes e que tomam medicação que interfere com alguns recetores celulares. Esses doentes teriam um prognóstico mais grave. Contudo, nem a carta adianta dados empíricos, nem há estudos que forneçam quaisquer provas consistentes adicionais. Precisamos que outras séries de doentes sejam analisadas e apresentadas para uma decisão informada.
É de sublinhar que, tradicionalmente, nas infeções víricas, particularmente perante a febre e as dores, o tratamento recai sobre o paracetamol, nomeadamente para poder prevenir algumas complicações, que, embora raras, se foram identificando ao longo de muitos anos.
Assim, justifica-se atuar como sempre se fez (tomar o paracetamol) e reservar fármacos como o ibuprofeno para as circunstâncias em que, consideradas as vantagens conhecidas e ponderado este novo eventual efeito indesejável, ainda não verificado, eles se continuem a justificar.